Seminário retoma importância do debate sobre masculinidade

Atividade organizada pela Prefeitura de Caxias do Sul teve mais de 200 participantes

A terça-feira (23/08) foi dia de enfatizar novamente a reflexão sobre a temática Masculinidades e Paternidades. A atividade, que reuniu cerca de 200 pessoas, durou o dia todo e foi oferecida em dois turnos, no auditório da Faculdade Anhanguera, em Caxias do Sul.

O seminário, organizado pela Prefeitura de Caxias do Sul, teve início com apresentação dos programas Infância Melhor (PIM) e Criança Feliz (PCF) pelas representantes da secretaria da Educação, Andrea Silva, e da Fundação de Assistência Social (FAS), Henriette Castro, que trouxeram um panorama do trabalho na cidade, e também a implantação do Programa P com as famílias atendidas pelo PIM/PCF, iniciado em janeiro deste ano, em parceria com o Instituto Promundo. A secretária da Educação, Sandra Negrini, reforçou a importância do trabalho conjunto da dimensão social, engajada nos mesmos propósitos. “É importante tratarmos desses temas, pois ainda existem muitos tabus. É preciso trabalhar e reforçar o olhar sobre os gêneros e na qualificação da relação do masculino com o feminino”, relata.

A presidente da FAS, Katiane Boschetti da Silveira, expôs dados que impactam na reflexão sobre a importância do papel paterno nas famílias atendidas pela rede socioassistencial de Caxias do Sul. Segundo a presidente, das 226 acolhidas em abrigos e casas-lares, mais de 12% não têm registro do pai nas certidões.

Sobre os atendimentos no Centros de Referência Especializado de Assistência Social, que atuam na proteção social de média complexidade, em situações de violência e negligência que envolvem as famílias, dois dados chamam a atenção. O primeiro, sobre os 83 adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, indica que 71 são do sexo masculino e 60% têm a mãe como referência de família.

O outro dado também está relacionado com a condição da mulher como referência da família. “Precisamos refletir sobre o papel do homem nas famílias, pois das 249 famílias atendidas no serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos, 91% têm a mulher como referência familiar. Sabemos que a questão é cultural, mas precisamos fazer a autocrítica e pensar nessas questões, não só no campo profissional, mas também em nossas casas e nas relações com pais e filhos”, cobrou.

A vice-prefeita Paula Ioris referiu que o evento é uma oportunidade de aprendizado e reflexão nesses conceitos, promovendo, principalmente, a inclusão da figura masculina na família. “Trabalhar na prevenção é o melhor caminho, precisamos compreender porque a sociedade está assim e não focar apenas no papel de vítimas, tendo a mulher e o homem como adversários. Nosso desafio como figuras públicas é sermos construtivos sempre”, ressaltou.

O palestrante Luciano Ramos, representante do Instituto Promundo, explanou sobre conceitos de masculinidade heterogênea e periférica, trazendo reflexões sobre o aprendizado social dos papéis de mulher e homem na sociedade. “Nascemos biologicamente como macho e fêmea. Porém, o aprendizado de ser mulher e ser homem é aprendido socialmente, com pais, avós, tios e tias, ou seja, no meio em que vivemos”, explicou.

No âmbito da paternidade, o Programa P, realizado de janeiro a março deste ano em Caxias do Sul, apresentou tendências de impactos interessantes junto aos homens pais, principalmente na mudança de mentalidade. “Assuntos simples, como a importância da parceira ter tempo para estudar e ou trabalhar fora ou sentir-se preparado para não repetir com os filhos coisas ruins da criação que recebeu, foram alguns dos avanços que percebemos no final do programa”, enfatizou.

Outras abordagens do programa P, que reforçaram a importância da incorporação de hábitos simples, como preparar as refeições das crianças, trocar fralda, não discutir com a parceira em casa e ter cuidados com a própria saúde, também tiveram um progresso significativo. “É preciso uma nova leitura dos nossos serviços, seja na saúde, assistência e educação, para realmente incluir e aumentar a participação dos homens nos atendimentos, seja na gestação da companheira como na vida escolar do filho”, ressaltou.

Os resultados do programa P de Caxias do Sul e o impacto gerado serão temas do Seminário Estadual do PIM, marcado para esta a quinta (25/08), em Porto Alegre, como case de sucesso. “A implantação do programa gerou na equipe local do PIM um desejo de aprimorar práticas e atendimentos com a figura do pai dentro da primeira infância, tradicionalmente focada na figura materna”, argumentou a presidente da FAS. O encontro, em Caxias, também foi acompanhado pelo secretário de Parcerias Estratégias, Maurício Batista, por diretoras da FAS, trabalhadores da rede socioassistencial e estudantes.